quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Era uma vez um cara tímido. Muito tímido. Muito, demais, além da conta.

Esse cara descobriu a internet. Começou a ver com funcionava, descobriu os sites, descobriu como funciona a vida virtual. E depois descobriu os sites de relacionamentos. Criou um perfil lá. E deixou.

Uma menina descobriu o perfil desse cara. Mandou uma mensagem. Depois outra. E depois mais outra.

O cara ia respondendo, maravilhado com aquela situação. Como ele nunca tinha namorado antes, imaginou que de repente poderia ser aquela sua primeira experiência.

Ele estava enganado - mas vamos contar as coisas como elas aconteceram.

Ele comprou ovos de páscoa dela. Ela foi entregar. Eles foram almoçar. E depois ela voltou algumas vezes ao local de trabalho dele, pra fazer cartão de visita, pra visitar, pra conversar.

Surgiu uma amizade muito grande, muito forte, muito intensa. Amor, mesmo - mas de irmãos.

Ela começou a namorar uma outra pessoa.

Ele também começou a namorar uma outra pessoa.

Ela terminou. Ele também. E os dois voltaram a se encontrar, a sair, a conversar.

Ela voltou a namorar.

Ele esperou.

Ela terminou.

Ele começou a namorar.

Ela esperou.

Ele terminou, e logo em seguida começou de novo a namorar.

Ela começou a namorar.

Ele ficou doente.

Ela ficou do lado dele, sempre, todos os momentos. Mesmo namorando, ainda que fosse pela internet, ela sempre esteve lá.

Ela terminou.

Ele continuava doente.

Ela começou a namorar. Infelizmente ela não fez uma boa escolha - o namorado dela é super ciumento, imbecilmente e idiotamente ciumento.

Ela teve que se afastar dele por causa do namorado.

O namorado dela aprontou, fez besteira. Ela pediu ajuda pra ele. Ele foi, viu, e disse que não era nada de mais, mesmo sabendo que era coisa demais, sim.

O namorado dela brigou feio com ele. Muito feio.

Ela ficou triste, pediu desculpas pra ele, mas, se afastou com o namorado. Foi morar bem longe.

Ele entendeu, mesmo ficando muito triste com a decisão dela. E também se afastou, mesmo porque ele não quer que ela fique triste com o namorado, por causa dele.

E como diz a música (Eduardo e Monica, do Legião): "E a nossa amizade dá saudade no verão". No verão, no inverno, na primavera, no natal, no carnaval, e principalmente na páscoa, quando ele se lembra dela, no portão da empresa, junto com uma amiga, com as sacolas com os ovos de páscoas, com aquele sorriso meigo e lindo, perguntando "é você o Wellington?"

Ele sente muita saudade dela. Talvez ela não saiba o quanto ela é importante pra ele. Talvez não tenha a menor idéia do tanto de "importante" ela represente na vida dele. Ela esteve todo o tempo ao lado dele, na doença - que foi uma fase negra na vida dele e que graças a Deus passou -, até que o namoro a afastou. E agora, que ele tá bem, ta vivo, tá inteiro de novo, ele não pode ter a companhia dela, nem que seja por um dia, para matar as saudades, conversar, e poder retribuir um tantinho que seja o amor que ela dispensou a ele.

Sim, pode existir amizade forte e verdadeira entre homem e mulher. E não, não precisa que um deles seja homossexual, não. Se a gente souber olhar pra alma, os corpos não dirão nada. E é assim que a coisa funciona - a gente ama a alma da pessoa. Foi assim, é assim, e sempre será assim.

Ele a ama - não amor "normal", carnal, de homem e mulher. Mas amor de almas, de irmãos. E esse amor é muito forte, muito verdadeiro.

Pena que o marido dela não consiga entender isso, esse amor que transcende todo e qualquer estigma de sexo ou de amizade por interesse. Um amor que sempre foi puro, simples, porém forte, intenso, sempre presente, mesmo quando ausente. Amor de irmãos, amor de duas almas que se entendem sem palavras, sem nem precisar olhar. Almas que se completam, que se curtem, que torcem um pelo outro, que comemoram - mesmo longe - cada vitória do outro. E ele fica muito triste que as pessoas não entendam isso. Ele pensa que as pessoas têm mentes pequenas, fechadas, que não conseguem ainda entender quão gostoso é uma amizade verdadeira, e fica bravo porque as pessoas não querem evoluir, não querem pensar que isso possa existir.

E ele quer dizer pra ela que a ama muito, demais, e que sente muita falta dela. Que ele se afastou por motivos mais que óbvios, e que agora, a partir do comecinho do ano que vem, ele vai estar mais longe, e que queria muito comemorar essa vitória com um milkshake de ovomaltine no Tatuapé, mas, que foi apenas em sonho, já que ele não pode realmente fazer isso.

E ele termina essa carta aberta em lágrimas.

Abraços a todos.